O Mercado de Dados em 2023

O período de virada do ano é, tradicionalmente, um momento de reflexão, de pensarmos sobre o ano que passou e o que está por vir, sobre como os planos e previsões que fizemos no passado se concretizaram (ou não), e sobre os ajustes que precisamos fazer nas nossas perspectivas futuras. Aqui na BigDataCorp estamos constantemente pensando sobre o universo dos dados, no qual estamos firmemente inseridos, e hoje vamos compartilhar as tendências que observamos para 4 grandes temas que devem movimentar o nosso mercado em 2023. 

Crise e Crescimento

2023 está se desenhando como um ano difícil para a economia mundial. Além do risco de recessão (ou das recessões já em curso) em grande parte do mundo, no Brasil temos um cenário político complexo, com mensagens conflitantes sobre a política econômica, responsabilidade fiscal, e outros temas relevantes para o funcionamento da economia. Junto com isso, continuamos a observar pressões inflacionárias, e o consenso de analistas e do mercado em geral é da manutenção da taxa de juros básica em um nível alto, o que dificulta os investimentos por parte das empresas.

Esse cenário econômico complexo geralmente se traduz em projeções menores de crescimento para a maioria dos setores. O mercado de dados, no entanto, tem algumas características contra-cíclicas que criam a possibilidade de um forte crescimento não só para 2023, mas também para os anos seguintes. 

A principal aplicação de dados e informações nas operações das empresas hoje é na otimização de processos, no que é convencionalmente chamado de “transformação digital”. Essa otimização envolve a aplicação de informações, seja através de regras, relatórios, ou mesmo inteligência artificial (e vamos falar mais um pouco sobre isso daqui a pouco), para automatizar processos e reduzir a quantidade de trabalho que precisa ser realizada por pessoas. Na grande maioria das vezes, isso se traduz em redução de custos, e em um retorno sobre o investimento muito positivo. Dessa forma, em momentos de aperto orçamentário, a tendência é que as empresas busquem mais, e não menos, automação, o que leva diretamente a um aumento no consumo de dados e tecnologias relacionadas.

A segunda característica tem a ver com aplicações específicas, e com as verticais que são as maiores consumidoras de dados hoje no mercado. Dois dos principais usos de dados no mercado hoje são a tomada de decisões relacionadas com a concessão de crédito, e a prevenção à fraude. Em momentos de crise econômica, tanto empresas quanto pessoas tendem a buscar mais crédito junto às instituições financeiras, fazendo com que o volume de análises de crédito aumente de forma significativa. Da mesma forma, a incidência de fraudes tende a aumentar quando a economia desacelera e mais pessoas ficam desempregadas, o que se traduz em maior necessidade de ferramentas e processos para mitigar esses riscos. Em ambos os casos, uma das consequências é o aumento da demanda por dados.     

Assim, apesar do momento difícil quando olhamos para o ambiente macroeconômico, o mercado de dados tem uma conjuntura positiva, com diversos fatores que devem impulsionar a continuidade do seu crescimento.

Novos Entrantes

Ao redor do mundo, estamos vendo a entrada de cada vez mais empresas no mercado de dados, de forma direta ou indireta. Aqui no Brasil, além do movimento expressivo de entrada da B3 nesse mercado com suas recentes aquisições, estamos observando também a entrada de novos players internacionais no mercado através da compra (total ou parcial) de empresas locais. Do investimento realizado pela LexisNexis no Quod à oferta de compra da Boa Vista pela Equifax, esses movimentos demonstram o interesse das grandes empresas internacionais de dados no Brasil, e reforçam a importância do nosso país nesse mercado.

E não é só no movimento de grandes empresas que estamos vendo a entrada de novos participantes. Ao longo de 2021 e 2022, surgiram dezenas de novas startups voltadas para o mercado de dados, atuando principalmente em nichos de informação específicos. Essas empresas geralmente trazem para o mercado informações de setores específicos da economia (como do mercado imobiliário, ou de publicidade), ou então soluções que aplicam dados de diferentes fontes para verticais específicas (como o due dilligence ou a análise financeira de empresas).

O crescimento expressivo da demanda por dados ao redor do mundo tem levado até mesmo empresas que não estão diretamente envolvidas no mercado de dados a criar ofertas relacionadas. Instituições financeiras, empresas de tecnologia, indústrias e mais tem ofertado dados específicos que possuem, ou produtos construídos baseados em suas informações proprietárias, no Brasil e ao redor do mundo. Essa é uma tendência que deve se ampliar, já que esse tipo de serviço pode compor uma fonte de receita alternativa importante em um momento de complexidade econômica.   

Com todos esses ventos a favor, o aumento da quantidade de participantes no mercado de dados só deve se acelerar em 2023 e nos próximos anos. 

IA, IA e mais IA

Como já havíamos falado em outros momentos, a inteligência artificial continua sendo uma das formas mais eficientes de se extrair valor das informações e dados que as empresas possuem dentro de casa, ou que podem adquirir no mercado. A popularidade de modelos baseados em inteligência artificial generativa, como o Dall-E (para a construção de imagens) e o GPT-3 (para  a geração de textos), tem novamente capturado a imaginação das pessoas e das empresas sobre o que é possível se fazer com essas tecnologias, e estamos vendo o surgimento de dezenas de empresas aplicando os mesmos conceitos em nichos de mercado específicos.

O combustível de qualquer modelo de inteligência artificial são os dados. Dados em grande volume e com qualidade estão, e vão continuar, sendo amplamente procurados por todas as empresas que querem incorporar a inteligência artificial em suas operações, seja para atingir resultados melhores, para reduzir custos, ou simplesmente para trazer uma imagem de inovação para a sua marca. 

Essa demanda crescente por dados se traduz tanto no investimento cada vez maior em tecnologias de coleta, gestão e manutenção de dados internos – data lakes, data warehouses,  e outros tipos de plataformas de software – quanto na aquisição de dados externos. Em muitos casos, são justamente os dados externos, ou a aplicação de dados alternativos, que trazem os maiores ganhos para as empresas, e a busca por essas informações só tende a se intensificar.  

Junto com a busca por dados, existe também uma abertura cada vez maior para a aplicação de soluções baseadas na inteligência artificial nas operações das empresas. Se há alguns anos a preocupação com a explicabilidade dos modelos era grande, e a utilização de técnica mais opacas, como redes neurais e outros algoritmos computacionais, era mal-vista por órgãos regulatórios, hoje as companhias vêm percebendo que essas tecnologias serão cada vez mais fundamentais para conseguirem se manter competitivas no mercado.

A inteligência artificial não vai resolver todos os problemas do mundo, e estamos no topo de um novo ciclo de hype dessa tecnologia, mas, diferente do que vivemos nessa área no passado, aplicações de negócios reais estão surgindo e vão se proliferar ao longo de 2023, e dos próximos anos também.  

Privacidade e Regulamentação

Não podemos falar de dados em 2023 sem falar de privacidade e regulamentação. Em 2022, vimos o surgimento de importantes marcos regulatórios ao redor do mundo, bem como de uma aplicação mais intensa das legislações que já estão em vigor a mais tempo, como a GDPR. Essa tendência de maior preocupação dos governos com relação aos dados, e com as suas diferentes aplicações, não deve mudar.

Além de novos marcos regulatórios, como o marco regulatório de inteligência artificial, que vem sendo discutido no congresso nacional, e regulamentações nacionais nos Estados Unidos e em outros países, podemos esperar neste próximo ano uma intensificação das ações de agências reguladoras e de promotores públicos com relação à possíveis violações de privacidade ou de falhas na proteção de dados de indivíduos. 

E a atuação com base na regulamentação não deve ficar restrita apenas a casos envolvendo dados pessoais, embora esses sejam os que geralmente chamam mais atenção da mídia. Já em 2022 vimos a União Europeia utilizar o seu arcabouço legislativo de proteção de dados para agir contra o monopólio de grandes empresas de tecnologia, como a Amazon e o Facebook, e forçar mudanças de comportamento dessas empresas com relação aos dados de outras empresas, no contexto dos marketplaces. Outros movimentos, relacionados com a remuneração de fontes de notícias locais, a proteção de pequenas empresas e comércios no ambiente digital, e temas relacionados, devem acontecer com mais frequência em 2023 e nos próximos anos.   

Conclusão

Se 2022 foi um ano em que a imprevisibilidade dominou como tema global, tudo aponta para que 2023 seja mais estável, embora economicamente mais ruim. Para o setor de tecnologia em geral, e para o mercado de dados de forma mais específica, esse panorama acaba sendo positivo, criando condições de mercado que favorecem o crescimento e a expansão das empresas que atuam nele.